BAIXOU AS PERSIANAS PARA QUE FICASSE UMA LUZ no quarto e ligou o ar no dois, o bastante para que o massagista não fosse ter calor e ela frio. Deitou-se na cama e esperou que chegasse. Um bocado nervosa, achou. Afinal era só um massagista, que coisa. Para quê tanta comoção. Ia chegar, fazer a massagem, acabar com o que tem que acabar e pronto. "Ai filha, vê-se mesmo que não tens mais no que pensar. É chique a valer, mas estás a ficar igualzinha a elas".
Avisam que o homem chegou. Quinze minutos antes do tempo. "Seu Naelson, ele está adiantado, vai ter que esperar".
Euclides da Cunha, massagista profissional, dono de muitos méritos e responsável pela bunda da mulata Adriana Bom Tom estava ali a quatro andares de lhe fazer a pergunta fatal. A pergunta mais humilhante que ela poderia ouvir, com os olhos dele ao nível da sua bunda, o biquini deslocadíssimo, por ele, da sua regular posição: "Você usa calcinha fio-dental?"
Num instante invadiu-a um sentimento predominante de portugalidade, padeira de aljubarrota, sabe-se lá. Acharia o gajo que ela era algum Joaquim Agostinho?