Um blog da diáspora blasée


31.3.08

Questões do Fim de Semana

1) Aqui ninguém liga nenhuma ao Acordo Ortográfico.
2)Um prefeito que vai à Bahia pedir a Nossa Senhora do Bonfim que afaste o mosquito da dengue para o oceano é débil mental?
3)Porque é que a Dilma Rousseff anda a escarafunchar as contas do FHC, nomeadamente a contratação da simpática e magnífica chef Roberta Sudbrack?
4) Em que bairro me vou hospedar em NY?
5) Se a professora do telemóvel fosse uma mulher gira provavelmente a parva da aluna não teria dado o show que deu (nenhuma mulher enfrenta uma mulher mais gira), ou acham que ela não ouvia os grunhidos de apoio do xunga filmador? E se a professora fosse engraçada quem o grunho apoiaria? Líbido, meus caros, pulsões sexuais, testosterona, bonecas infláveis, Ginas, essas coisas importantes dentro de uma sala de aula cheia de adolescentes com as hormonas aos pulos. Ou em brasileiro, hormônios. Com os hormônios aos pulos.
(E sim, isto levanta uma questão de saúde pública: As mulheres em Portugal deviam arranjar-se mais, querer ser mais bonitas para os seus maridos, amantes, amigos, amigas, alunos, pacientes, patrões, empregados. Ordem aleatória a estudar com o Zieger )

30.3.08

"Bush, meu filho, resolve a sua crise"

O Brasil transfoma-se rapidamente num país gordo, cheio de Lulas em sunga com latas de cerveja Skol, camisetas regata, pasteis de camarão com catupiry a dançar o Créu e a fotografarem-se mutuamente, com máquinas digitais cento e tal megapixels. Imagino que vos possa parecer sociologicamente interessante este súbito poder aquisitivo das classes C e D. Aqui não passa de um pesadelo. Estou mal disposta porque hoje sonhei que tinha passado todo o fim de semana numa convenção do PT, na Ilha Grande, com a Dilma Roussef e o Lula, bastante transpirado - eu estava nas primeiras filas e levei com algum cuspo e pingos de suor que lhe saltavam da testa - a gritar sobre a importância das Brigadas Ambientais. Pior que isto só quando tenho aquele outro sonho recorrente dos seis a três, em Alvalade.
"Eu tinha matado a facadas um preso que quis me violentar. Fui para a cela-forte. Lá não tinha nada, estava ficando maluco. Até que o faxina passou o recado de outra pessoa: "Ô meu, liga o telefone aí." Pensei: "Que telefone?". Não havia celular na época. Imaginei que devia ser a privada, pois era a única coisa na cela. Tirei toda a água com a canequinha e ouvi uma voz: "Quem está ligando o telefone?". Disse que era o Luiz e ele falou que morava em frente à minha cela. Durante quatro meses conversamos pelo encanamento.(...) Ele lia muito, me contou a história de "Os miseráveis" do Victor Hugo. Depois li o livro e me decepcionei, era uma porcaria perto do que ele me narrou, porque colocava muito de si mesmo na história. (...)

Luiz Alberto Mendes autor de "Às cegas" finalista do prémio Jabuti em 2006.
Entrevista a Mauro Ventura na Revista, O Globo.

28.3.08

Aninha

Eram umas quatro da manhã quando os três acordaram o porteiro da noite, que dormia no sofá da entrada descalço, como sempre. Boa noite Josué. Boa noite doutor, tudo tranqüilo? Tranquilíssimo Josué. Vamos, vamos subindo lindas. Aninha já segredando obscenidades ao ouvido de Marta. Mulher gostosa, dengosa, vou-lhe lamber toda. E lambia, graças à tal da língua, a São Jorge, a Nossa Senhora de Aparecida e a São Sebastião. Se bem que este último em nada ajudasse, apenas refletido nos espelhos do elevador que nem alma penada como na cabeça doentia de Marta, Coitado o que ele ia gostar de aqui estar... Mas era Miguel que abria a porta de casa para entrarem, as duas à frente já aos beijos de língua, distraídas dele. Marta descalçando as sandálias de salto para não acordar as crianças, muito menos a bábá, Aninha desatando os laços da camisa de frente única dela, enquanto lhe comia os ombros e as costas e os braços e tentavam caminhar aos encontrões e aos risos, pelo corredor estreito, até ao quarto.
E enquanto se atirava para cima da cama, com Aninha na frente dela e ou por cima dela e Miguel sabe-se lá onde, já só tinha as calças vestidas e no pescoço cinco colares sobrepostos, de sementes de açaí, que adorava usar e enlaçar nas pilas de Sebastião e Miguel.
Logo depois, para nossa infelicidade e felicidade dela, deve ter parado de pensar. E é também por isso que ficamos por aqui.

26.3.08

Uma blogger cubana

Começou a briga com os velhos comunas. (1,2 milhão de visitas em Fevereiro)

25.3.08

O trabalho

Após juntar tudo o que Mãe Valéria lhe tinha pedido, Marta chamou um táxi às escondidas da babá que há anos mandava nela e há dias não saía do seu pé, desconfiadíssima do inusitado comportamento da patroa. Mas só na Vieira Souto, por altura da Paul Redfern, teve coragem de olhar para dentro do saco de pano vermelho que o Panela tinha ajudado a preparar, entre orações a Iemanjá e promessas a S. Jorge. Viu então os dois dentes de alho podres, uma azeitona preta, o seu pentelho cor de laranja solitário dentro da caixa da Relojoaria Leblon, duas calcinhas usadas e muito velhas, a cabeça de uma galinha decepada, uma mosca morta e uma pila de bébé nato morto - de Dengue - na Baixada Fluminense. E teve a sensação de que talvez... Talvez pudesse estar completamente maluca. Mas isso não a fez sentir mal, pelo contrário. Deu um nó no pano e com desmesura pousou o saco a seu lado, como faria se se tratasse de uma sacola cheia de biscoitos e pastas de dentes, ou qualquer outra coisa normal.

O apartamento onde Mãe Valéria atendia era no fundo de um corredor enorme de um prédio de esquina, sujo da poluição dos carros, na Princesa Isabel. Um lugar perigoso dada a proximidade da favela e também da presença de um boteco imundo e sempre cheio de indigentes comendo restos de pasteis de carne ou queijo bolorento, abandonados por porteiros e diaristas que passavam a correr, querendo matar a fome a um e cinqüenta, direito a pastel e chá mate.

Era um quarto e sala, mal iluminado, com um banheiro de azulejos às flores azul cueca muito anos setenta e uma cozinha mínima, para onde eram levados os frascos com águas coloridas, que vinham sabe-se lá de onde, banhos de descarrego contra o olho grande, o ciúme, a malvadeza, a avareza, a impotência e outras maleitas mais ou menos mundanas e recorrentes.

Bateu duas vezes na porta branca, tentando não acertar nas marcas dos dedos deixadas pelos outros clientes e esperou que a assistente coxa, de um metro e cinqüenta, olhos borrados de rímel e unhas pintadas em casa, lhe viesse abrir a porta. Rezou para não se cruzar com ninguém na salinha de espera que felizmente se apresentou vazia: Só ela sentada no sofá de linóleo pegajoso e barulhento, dona Iracy a assistente coxa sentada atrás da mesinha, um peixe vermelho no aquário redondo e a Ivete Sangalo aos pulos no som, por certo comprado em dez prestações de 9.99 reais, sem juros, na Casa e Vídeo.

Passaram cerca de dez minutos, duas músicas de Ivete, antes que dona Iracy a mandasse entrar: Mãe Valéria está pronta e esperando você, filha.
Merda, agora é que estou fodida, pensou, logo entrando saquinho na mão e fechando a porta atrás de si. Educadamente, é claro.

18.3.08

Férias


MAV e FJV

No fim da noite recebi uma notícia tão boa, mas tão boa, tão boa, que resolvi retirar o post que aqui estava. Talvez volte até a escrever com exclamações!

Eu e Chico no Calçadão

Ontem, pelas duas da tarde, deviam estar uns 39 graus ali no calçadão. Achei que era um bom dia, portanto. Já não o via há bastante tempo, comecei até a andar um tudo nada deprimida. Será que ainda não voltou lá de Paris? Ele, verde-rosa de coração, que decidiu - aposto que só depois de saber que eu também não iria estar presente na Sapucaí - não dar as caras no Carnaval deste ano.
Será que ainda não se cansou das parisienses deprimidas e branquelas, trocadas por aquela italiana escorregadia com a mania que toca violão? Não é possível.
Fiz aquela cara de desenho animado, o pensamento acompanhado do respectivo fechar de olhos, enrugando a testa e fazendo força, beijei Nossa Sra. de Aparecida em conversa com Sto. António de Lisboa, na minha mesinha dos santinhos e pedi por um encontro(a cara de desenho animado era a pedir). Não me ligaram nenhuma.
Peguei no Ipod, prendi a nota azul de dois reais (para a água de côco) no fio lateral do biquíni (não, não foi no fio dental do biquíni, que ainda não enlouqueci) e saí porta fora. Apanhei (peguei já me soa muito melhor) o elevador de serviço, não fosse o caso de encontrar as jarretas do prédio e eu quase nua. E fazem sempre uma fita, as jarretas, como se este fosse um país de pessoas muito vestidas. Mas pronto, deixa-te lá de fosquinhas, só figuras tristes mesmo, desembucha a história...
E o calçadão, que também interessa, lá estava e o asfalto pronto para fritar ovos idem, e o Morro Dois Irmãos, que é um escândalo. Tive logo vontade de abortar o plano e abancar a bunda na praia, cadeirinha e Matte Leão, a pensar no show de luta na lama que irei ver no Madison Square Garden, de Nova Iorque .

Olhei lá para o lado direito, onde ele costuma aparecer e népia, nicles batatinhas. A custo comecei os alongamentos, agarrada a um poste. Fiz bem meia hora de alongamentos, rabo para o ar, ninguém se importa, não liguem, nada de importante para mostrar, os irritantes fiozinhos do Ipod sempre a embrulharem-se e a caírem das orelhas, uma completa falta de estilo. Nada dele.

Novamente o Demo a chamar-me, Olha o mar, olha o mar, que se lixe o Chico, que se lixe a bunda mole e a barriga brrrrgh . Tens outras coisas, mulher. Só que entretanto, maravilha, meu bom São Judas Tadeu, Deus escreve direito por linhas tortas, ele o génio, o olho azul, a calça branca, o tronco nu e aquela cor, apareceu do lado contrário.
Descontrolada, como é óbvio, voltei a fingir que alongava a panturrilha, que vinha vindo na minha direcção o Deus, concentradíssimo lá na vida dele, quando sem que nada fizesse prever, parou. O homem parou, ou estacou, ou lá o que foi. Mas o problema, que não era problema, não foi ele ter parado. Aqui todos param onde querem, uma coisa sem rei nem roque, o culpado é o Lula. O problema é que ele tinha parado perto demais causando o maior bafafá entre o gajedo que tentava borrifar-se no Cuca Fresca. No meio de quem, esta que vos escreve, estava já filosofando nos seguintes termos:
Controla-te, vá estúpida, pensa em mantras, ai menino Jesus, pensa em cócó diarréia, apenas continua quieta, não faças nada, sobretudo não te movas, não te mexas. Estás de rabo pró ar é verdade, mas não te mexas, Mónica Maria. E enquanto se lembrava de ordenar ao cérebro, o que o coração não queria, ouviu finalmente uma voz prolongar-se, parva, gaguejante e pirosa no ar: Olá Chico. Gosto muito de si.
Ele tomava um côco e do côco saía uma palhinha.
Melhor ir para casa lavar loiça.

17.3.08

três ou quatro profs

Pus os fones nas orelhas. Mau sinal quando preciso pôr os malditos fones nas orelhas.
Deixo a crônica que já tinha pronta de lado e faço força para ver se me lembro de alguma coisa sobre o assunto premente. E só consigo pensar no meu professor de ginástica. Era ele no ginásio do Colégio São Cristóvão, ao lado da Igreja de Benfica e o Dr. Mundinho em Ilhéus,Bahia . Não havia nada que se lhes comparasse.
O meu Doce Vampiro tinha umas barbas, meu deus que não me consigo lembrar do nome dele. O que me ensinou? Uns golpes de Judô e uma sensação de borboletas na barriga, importantíssima para o meu futuro. Aquela que me fazia ficar e arrumar os tatamis e querer continuar a arrumar tatamis a vida inteira. Uma felicidade.
Também me lembro da professora que me ensinou a ler, que é uma coisa que acho toda a gente se deve lembrar. A cartilha João de Deus e o apontador. Acho que não me apaixonei por ela, mas gostava do sobrinho, o JP. Cabelos pretos lindos. Como dizia minha mãe, um cabelo à pagem perfeito, e que acima de tudo estimulava a minha aprendizagem. Queria sempre ter a letra mais perfeita de todas.
Ainda hoje adoro caligrafias. Acho que tive casos só com a caligrafia de certas pessoas.
Depois à professora da quarta classe, dava florzinhas, escrevia cartinhas e prometi ser a madrinha dos meus filhos. Ou pelo menos do primeiro. Não foi. Mas, lembro-me, lutei para ser a preferida dela com unhas e dentes. E fui.
Infelizmente não me recordo de mais nada até à faculdade, a não ser da minha especial inapetência para a Matemática, fomentada por professores a quem atirávamos giz na escola secundária de Benfica, mas isso devia ser porque vivíamos nos arrabaldes, em meio à ciganada.
Bem e vendo bem, dessa altura, também me lembro de dois professores de Filosofia e uma de Inglês. A de Inglês pelo penteado inacreditável e o ar totalmente enjoado com que nos olhava. Mas coitada, não devia ser para aquilo que lhe pagavam. Os dois de Filosofia, porque a um mostrei uns poemas horríveis e púberes e ele coitadinho teve a lata de dizer que eu deveria continuar, risos. E o outro porque me fez elaborar um trabalho sobre a influência de Kierkgaard nos filmes de Woody Allen. Mérito dele, portanto. Que despertar petulâncias destas, é o melhor que se pode fazer a uma gaiata de dezessete anos.
Na faculdade não me lembro de ter professores. Só fogueirinhas de vaidades ambulantes que, na maioria das vezes, mais não faziam que desdenhar os alunos nas provas orais. Eu cá não sentia nada que tomava cinco Valdisperts para agüentar a cagança.
Enfim, é mais ou menos isto e talvez nem estejam interessados, mas os tatamis eram verde musgo.

16.3.08

You should be dancing - Bee Gees

Drogarias Pacheco

Num fim de dia de começo de Verão e por motivos pouco ligados ao amor, Sebastião resolveu voltar para casa. A salvação para a sua vida miserável não seria nunca Marta longe, mas Rita perto e mãe de quatro crianças loiras e lindas, que ainda por cima eram sangue do seu sangue.Nesse mesmo instante no Rio, Marta via Rubem Fonseca, atravessando em frente aos correios, na Praça Antero de Quental e lembrou-se (pela terceira vez) de Sebastião e de como seguiriam o grande escritor, estivessem ali juntos. Não estando, sucumbiu ao espanto e deixou-se ficar imóvel, indo atrás dele só com o olhar, incapaz de qualquer movimento, os sacos da Drogarias Pacheco, cheios de shampoos anti-frizz, a pesarem-lhe das mãos. Só porque estava carregada com a dita sacaria e ao contrário do que sempre fazia, não lhe ligou a contar. Tendo assim sido poupada, por mais umas horas, da pragmática decisão de Lisboa.

15.3.08

Too many folks feelin car sick



Música para o fim de semana. Não resisti. Roubada daqui.

13.3.08

Quero que vá tudo pro inferno - O Rei

a não perder

"um casal de fufas despenteadas"

Bundolandia

Levanto-me muito cedo. Acordados só eu e o louco do pássaro das seis. Corro para o computador. As bundas na cabeça. Melhor escrever senão passa e aqui é sabido, nada pode passar, que isto é literalmente pão prá boca.
Não dá para conhecer a cronista pela bunda, mas dá para conhecer pelos bolsos, ou pelas malas, ou pelas bolsas: Procurem. Sempre cheias de notinhas ridículas. A desta que escrevo dizia assim: Quando queria que a minha mãe fosse uma intelectual de esquerda, adorasse saias indianas e freqüentasse a Festa do Avante, no Alto da Ajuda lá em Lisboa, já minha mãe era – com todo o respeito - uma grande bunda. STOP.
Ainda bem que não caiu em mãos alheias. Não a bunda, a crônica. Respeito.
Mas minha mãe, diria o bundólogo que comigo casou, tinha entre outros atributos, uma bunda giríssima que causava o pânico do meu irmão entre os amigos lá da rua, sempre que ela aparecia muito bem aperaltada (o computador acusou a palavra, mas aperaltada sempre existiu toda a vida no nosso vocabulário familiar). Em última análise, Freud deve explicar o problema de meu irmão. Um Édipo rei que, espero, tenha sido ultrapassado. Olá mano, como vais?
O meu foi, claro que há pouco tempo, mas foi. Passei até a gostar de ir com ela às Lojas Americanas, comprar meia-calça levanta bumbum, (não há como estes gajos para as letras) com cinta que levanta o bumbum, aperta a barriga, diminui os quadris e elimina culotes e ideal para ser usada com roupas justas. Prometendo um efeito incrível.
A vinte reais, compramos as duas umas vinte, ela tem aí para vender, sempre foi pela livre iniciativa, daí as faltas ao Alto da Ajuda. Mas ao que interessa, infelizmente a gravidade não perdoa e vivendo no país de bundas em que vivo é uma grande merda: Cai, tudo cai.
A bunda portuguesa deixa a desejar. Deixa muito. É mole, é larga, cresce muito para os lados e é incrivelmente espalmada quando comparada com a das locais. Não sei explicar melhor, que neste momento me lembrei da bunda da Juliana Paes e estou acometida de um ataque de nervos.
Sendo que a bunda portuguesa aqui sou eu e que todas as outras estão incrivelmente sempre lindas, odiosas de tão lindas, vivo tendo neuroses, (gerúndio bem aplicado que é uma constante).
Até a da Maria (en)Rita dá de dez. Desconfio que só a da Rita Lee não dá. E é porque está velhinha e já não tem pachorra para as meias calça. Sendo assim, toda, mas toda brasileira é bunda. Mesmo as nerds de São Paulo. Vão lá passear-se nos Jardins, lá na esquina da Hadock Lobo com a Oscar Freire. Vão ter uma puta de uma introdução. Depois, pronto, já escolados apanhem o avião - sem medo do caos aéreo - e sejam bem vindos. Antevejo um Santos Dumont cheio de bundas.
Doses maciças de tranqüilizantes, meninas, para precaver o confronto com bundas gigantes, bundas pequenas, bundas mulatas, bundas brancas, bundas parvas, desculpem, pardas. Bundas que já foram bundas mas ainda nos dão um baile, como a da Monique Evans, bundas balançantes, bundas comportadas, bundas salientes, bundas douradas, bundas malhadas (as piores), bundas ricas e bundas pobres... E a minha lá no meio, claro, totalmente suportada pela consistente meia calça.
Queriam mais eu sei, mas o resto, desculpem lá, só mesmo com o Zieger.
Desenho de Mariana Massarani

9.3.08

Uma por semana - As Havaianas

Talvez fosse bom começar falando de sacanagem. Sobre o que é um tapa-sexo. Mas não descalço as Havaianas desde que voltei de Lisboa. E infelizmente ainda não sou íntima desse outro acessório. Lá chegarei que já não sou mocinha e atravesso uma fase bem resolvida. Daquelas de tudo experimentar, privately, que um “simancol básico” nunca fez mal a ninguém. Obrigada Danuza.
Este é um descarado tributo ao chinelo. Até porque ainda não escrevinhei o suficiente para calcorrear crónicas em cima de Jimmy Choos – nesse caso desconfio, nem estaria aqui, nem vejo ninguém à minha volta de Jiminhos. Thank dog, (estou muito estúpida, sim)
Um problema, o olho grande, (isto tb não tem nada a ver, mas é para não esquecer que tenho que voltar ao OLHO GRANDE)
Foge-me o pé para o chinelo. Por acaso agora está descalço, mas foge. Foge muito. E Não queiram saber, que não é bonito, é desregrado e cria inimizades. Mas retomemos as Havaianas. Umas tiazorras muito queridas e assim, que me visitam. Foi aí que eu vi. A loucura das Havaianas, vendidas no Harrods em Londres, a preços pornográficos. Mas quem anda de Havaianas em Londres, deus do céu? Perguntei.
Ah, sabe lá a menina, aqui metida nos baldios da dengue.
Em frente. Umas tiazorras que chegaram aqui abaixo e sairam de cá, nos seus vôos Tap, as malas cheias de Havaianas. O interesse é comprar Havaianas. Onde é que há Havaianas? Esse bem precioso e eu sei lá, malucas, malucas, malucas, que as há em todo o lado, desde o talho em Ipanema, à farmácia mais mixuruca do Leblon, o indigente que acabou de passar por ti, tinha umas giras, viste? Não querem antes vir comigo à Travessa? Ver um show de chorinho? Vamos ver a bagunça da Sahara, comprar biquínis a dez reais? Sim, sim, sim. Mas temos que levar trinta e cinco pares de havaianas, não sei quantos 40-41 para o Rodrigo, o Arnaldo, o Bastos e o Tózé (estranharam os nomes, não é? Mas é mesmo assim, que tenho que disfarçar os textos), mais quatro 20-21 para a Giovanna, a Vânia, o Gabriel e o Yuri, ai desculpem, a Francisca, a Rosarinho, o Joãozinho e o Santiago. Santiago é nome de filho de artista de novela, mas é giro, portanto também merece uma havaiana no pé.
É que tratei logo de começar a receber pessoas - e como eu gosto de pessoas, olaré - oferecendo um par a cada um, que sou uma mãos largas e a acção benemérita ajuda a baixar o nível de exigência dos visitantes, um golpe baixo. Mas a vida também está cheia de golpes baixos. E todos adoram um agrado, não custa nada. O que é bom, porque depois posso alegar justa causa e não acompanhar ninguém, quando querem visitar pela qüinquagésima vez a Vista Chinesa. Até porque é difícil ofenderem-se de chinelo no pé.
Mais fácil um assalto, que naquele lugar, sei não, e afinal as tiazorras, mesmo de chinelo, têm gravado na testa em letras garrafais: GRINGA, Vem ni mi qui sou facinha.
Final: As Havaianas devem ser usadas até apodrecerem. Quanto mais velhas, mais estilo. Por velho entenda-se, terem a borracha gasta e nelas se poder vislumbrar as marcas dos dedos dos pés. Vai ficando uma sombra, sim.
Devem ficar justas, ou ser compradas um número abaixo para se ficar com um bocado do calcanhar de fora. Só os portugueses as compram como se o pé fosse ainda crescer muito.
Se tiver bom senso, não vai querer parecer tuga em lugar nenhum do mundo, principalmente se na contramão, estiver um grupo de madeirenses em férias.
Havaianas são para ir à praia, ou para andar em lugares de onde se possa ver o mar. Havaianas não são para ir ao centro da cidade ou sair à noite, a não ser que queira ser assaltado, ou ir à boite LeBoy , porque sim, porque está no Rio e lhe apeteceu uma fantástica experiência gay. Neste caso vá e seja feliz.
Havaianas com salto distinguem as pessoas de mau, das de bom gosto. Não queira ser alta para ir à praia. Assuma-se. Relaxe e goze que de Havaianas também é bom.