Um blog da diáspora blasée


31.8.08

29.8.08

28.8.08

Julianne Moore fala de Ensaio sobre a Cegueira, no Rio

Agora falta o podólogo

AINDA COM O ESTRANHO GOSTO METÁLICO da limpeza de pele, a segunda noite de insónia e na estante cada poema impossivel do João Cabral de Melo Neto. Não sei bem o que me parece isto, mas talvez literatura feminina feita por mulheres duas gerações acima da minha. E também me lembro de ouvir dizer que o cérebro encolhe e só volta ao normal algum tempo depois.

26.8.08

Nobody´s aquela coisa

TREINADOR AUSENTE, visitas à Rua Farani suspensas... Ontem aquilo do mimo... Hoje o vinho... Amanhã ou me engano muito, ou estarei de volta à poesia.

25.8.08

Mimo

24.8.08

«É como dizia Caymmi: esse orgulho passa»
João Ubaldo Ribeiro, para amigos, depois de uma mulher muito bonita passar por eles,
no Rio, ignorando o grupo.

22.8.08

A escola romena

EU CORRO NUMA ESPÉCIE DE JOGOS OLÍMPICOS PRIVADOS. Ainda não ouvi ninguém falar da importância dos treinadores, nesta merda. Eu, sem o meu, ia continuar a correr para aquecer. Com ele sou tratada à bruta sempre que choro, que digo que não sou capaz, que não vou conseguir. É uma espécie de não podes viver com ele, nem sem ele. Acontece que eu deixei de querer continuar a correr para aquecer e por isso ando a pão e àgua neste sadismo que tem sido virar-me do avesso a ver se sai alguma coisinha.
O meu treinador rabia-me e eu não me importo nada porque sei que a minha carne é fraca e o espírito vão e sem fome, pra fazer um samba é preciso mais que pretensão.
Corrige-me, vira-me as costas, olha para o que estás a fazer e fica sem paciência quando debito alarvidades maiores que as habituais.
Está sempre a pôr-me no meu lugar. Nunca me amparou o choro em momentos de desalento – que os há – nem nunca me fez festinhas na cabeça.
O meu treinador sabe que os ingredientes para o sucesso são outros que não a compreensão suavezinha ou a emoção luso-brasileira.
Também faz muito bem quando consegue transformar todas as minhas fragilidades em força. O meu treinador deve ter aprendido com os romenos, na altura da Nadia Comaneci. Imagino, mas nunca lhe perguntei, nem vou perguntar que com ele trabalho é trabalho, conhaque é conhaque e não iria tolerar tal intimidade a uma atleta.
Ele abstem-se de falar a maioria das vezes para disfarçar alguma doçura que começou a ousar após a Queda do Muro de Berlim e também porque está sempre muito mais atento às nossas performances do que aos mistérios da linguagem, mas para ele somos animais fáceis de treinar. Uma vez, estando eu fazendo tempos abaixo do exigido para os Jogos, sentou-se à minha frente com uma garrafa de isotónico de açaí, lembro-me como se fosse hoje e disse-me assim, Menina a receita encontra-se por aí num ou dois livrinhos. Eu respondi, Mas treinador, eu não li esses livrinhos e ele replicou, com uma imensa generosidade e uma mal disfarçada irritação na voz, Não entendes? É trabalho, porrada, trabalho, porrada, trabalho, porrada. Ah e raiva. Raiva, menina. Que não se ganham medalhas sem raiva.

20.8.08

Música

SOU MÁ COM PALAVRAS. Precisava ler muito mais para melhorar um bocado. Ou então deixar de beber caipirinhas a uma velocidade descontrolada ou desacostumar-me de cozinhar com um Gin Tónico ao lado da colher de pau.O meu problema é que muito mais que escrever, adoro cozinhar e só cozinho bem bebendo. A minha melhor hora do dia é por volta das oito da noite quando me dirijo à cozinha para preparar o jantar. Antes que me esqueça, o álcool foi para aqui chamado devido à minha dificuldade de expressão oral e escrita. Por causa dos esquecimentos. Sou daquelas pessoas que desenvolve mal uma idéia (não precisava dizer), que se perde, que não tem tino, que substitui as palavras que faltam ao discurso por bengalas, estou sempre a dizer e não sei quê, por exemplo. Chateio-vos, eu sei, mas descansem que me chateio muito mais a mim. E se para mim isto faz parte de uma terapia avançada e tem que ser, não vos ganharei resistência (vêem, a palavra aqui deveria ser outra, mas por estupidez natural e preguiça adquirida não a procurarei) se comigo não vierem até ao fim. Ás vezes não há pachorra para se aguentar os ritmos alheios e por isso é que a masturbação também é uma coisa engraçadíssima.
Mas esperem, esperem lá, que acabo de achar que nem eu vou aguentar esperar mais por mim. Talvez hoje não seja um dia bom, ou talvez a dificuldade que isto está a apresentar tenha a ver com os efeitos secundários que li na bula dos comprimidos. Vim aqui só para dizer qualquer coisinha rápida sobre música e de como ouvir Reginaldo Rossi mudou minha vida e acabo neste estado. Ai meu Deus. Razão tinha a senhora que generosamente, há uns meses, escreveu a pedir-me que evoluísse.

18.8.08

Cabide

14.8.08

«When one reads any strongly individual piece of writing, one has the impression of seeing a face somewhere behind the page.»

13.8.08

O despachante – end of the affair

ESTAVA CLARO QUE O GORDO ACHAVA QUE O PROBLEMA ERA EU, porque ainda olhando para mim, mas passando por cima de mim, disse cúmplice ao Alfredo, Essas madames Zona Sul gostam de uma encrenca, né doutor?
E chegando-se à frente para que os garçons não ouvissem segredou, Pois pode falar que aqui o Valdisney vai resolver.
Valdisney? Mas me disseram que quem vinha era um tal de Orlandão que conhecia todos os policiais lá na alfãndega...
Mas doutor, tá me estranhando?
Não, desde que você me assegure que vou poder passar os enchidos e os queijos da Serra...
Asseguro sim senhor, ou eu não me chame Valdisney e virando-se para mim, perguntou, E a madame, qual é a sua graça?
Magapatológica, seu otário de merda.
Levantei-me e saí. O Valdisney, como todos os canalhas usava sapatos cor de merda. Um mau agoiro.
Na rua o Alfredo perguntou-me, Estás mal disposta, querida? Mas eu, transida de saudades da terrinha, só conseguia pensar nos chouriços.

12.8.08

O despachante

NO BRASIL QUANDO SE QUER FAZER alguma coisa bem feita – entendam o que quiserem – recorre-se a um Despachante. Pode ser matar alguém. Eu não queria matar ninguém. Queria poder trazer uns chouriços e umas morcelas e uns queijos de Portugal e saber que iriam chegar seguramente ao destino. E é para esse tipo de coisas que um Despachante serve. Os meus amigos cariocas já se queixavam que há muito não degustavam essas iguarias, nas noites quentes do Rio, as janelas de meu apartamento abertas, bons vinhos, broa do Capixaba, enfim. O problema é que não se sabia porquê, as malas dos vôos TAP tinham passado a ser apreendidas bem antes de chegarem à esteira. E as conversas já decorriam à volta de avançados modelos de raio x que possivelmente estariam a ser usados pelos políciais e que conseguiriam diagnosticar o mais insignificante chouriço enfiado dentro de um sapato, para grande alegria dos bofes e enorme vergonha dos emigras apanhados no flagra, sempre sofrendo com os risinhos e olhares oblíquos de patrícios chiques europeus e modernosos, na fila do desembarque.
Marcamos um encontro com o Despachante no Le Coin. Era gordo, como todos os Despachantes e seboso. Não tinha pescoço e suava muito. Desculpou-se do suor, enquanto pousava a pasta e pediamos ao Lopes uns tira-gosto e três chops.
Então doutor, qual vai ser o probrema? Perguntou , sem tirar os olhos de cima de mim.

11.8.08

Mercado Modelo à esquerda Elevador Lacerda ao meio e Carol Castro à direita


NA SEXTA-FEIRA ÀS QUATRO DA TARDE estava metida debaixo de um edredon na minha cama, tentando desesperadamente descansar. Muito cansada, mas muito excitada também, quase me senti mal, do tipo bofes a sair pela boca. Tomei um comprimido de novalgina e a metade do outro obrigatório e ao fim de meia hora, dormi. Fiz a respiração preventiva que costumo usar dentro do Airbus para me acalmar. Não me fui depilar porque simplesmente não me conseguia mexer. Pensei, não há-de ser nada, o homem tem-me aturado neste estado, como um herói, prometo que de segunda não passa (não passou). O amor de todos os dias é uma coisa difícil e nós temos prática. Então subornei-o com a Playboy da Carol Castro e disse-lhe: Vá toma o corpo dela e aproveita a minha cabecinha. Além de tudo os dois gostamos demais do Elevador Lacerda.

adenda: obrigada Miguel.

8.8.08

Easy

A MULHER SÁDICA SOU EU. A mulher que não se depila. A parva que trabalha em cima do calhamaço da Leibovitz com as fotografias da Susan Sontag a morrer. A Susan Sontag a morrer. O génio da literatura a passar ao meu lado na rua, mais uma vez, sim e nem lhe ligar. A mulher sádica sou eu comigo mesma. E podem acreditar que não há pior do que eu comigo mesma. Eu ao quadrado. Perguntem a quem sabe. Dou nomes e moradas. Banalidades jogadas fora no consultório do Zieger. Eu posso. Eu pago.

Alive and kicking