O meu filho está em época de provas. Aliás, está sempre em época de provas, coitadinho, porque o meti a estudar num colégio de padres. Ando inclusivé a pensar em deslocar-me ao colégio para perguntar ao Frei se não era bom pô-los a fazer um bocado mais de coisas artísticas: plasticinas, pinturas ou assim, para ver se consigo acompanhar-lhe o plano de estudos. Ainda isto está a começar, a criança só tem nove anos, e fogo, já está a ver que a mãe tem carências incomuns a nível do raciocínio matemático. E que nos outros tipos de raciocínio também falha, minha nossa senhora, que a este ritmo vou acabar por ser desmascarada mais cedo do que o previsto, caraças, e eu a dizer-lhe que sempre fui uma CDF (Cabeça de Ferro). Mentirosa, mentirosa, mentirosa, mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo, ó pá desculpem, mas eu quero que o meu filho me ache não só muita linda como uma Madame Curie.
Todos os dias, Então amanhã tens prova de quê, De História mãe, então e estás a dar o quê, o Tratado de Tordesilhas e o massacre dos índios que os portugueses fizeram, está calado filho que não fomos assim tão maus olha os espanhóis fizeram bem pior.
Ou esta, mais humilhante, que tem a ver com a matemática e me está sempre a lembrar dos sucessivos uns que levei no secundário, O que é isto Tomás? ó mãe isso é para eu explicar a Propriedade Comutativa da Multiplicação, tá bem querido, então vamos lá falar dos Índios que assim como assim é bem melhor... E de como estes gajos adoram culpar os tugas por tudo e por nada, última parte da frase dita para dentro, claro está, que sou muito politicamente correcta com estas coisas e até ando a ler o último livro do Saramago e apeteceu-me ver se conseguia escrever um boacado como ele, viram isso não viram, pois se chegaram até aqui devem estar a arfar, a achar que desta vez é que foi, que a gaja se passou dos carretos.
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