Um blog da diáspora blasée


3.6.07

Devem ser do mesmo signo

"Seguinte: isso se chama “a humanização de um ídolo”. Pra mim, Caetano era deus e descobri que ele é um banana de pijama. [pausa] Ele sempre foi muito querido comigo e sempre passei muito mal porque ele é meu ídolo desde os meus 9 anos de idade. Mal imaginava ir algum dia na vida a um show de Caetano, quanto mais ser colega dele. E teve uma época, uns dois anos atrás, que a gente se encontrou mais um pouco. Ele tava gravando um CD e falou: “Cara, a gente está gravando num estudiozinho, com todos os músicos novos, e você virou a musa da gravação porque tem um pôster seu da Trip lá dentro. Você não quer ir lá?”. Daí fui na gravação, fiquei lá umas duas, três horas, vendo eles tocando. Quando acabou Caetano foi me dar uma carona até em casa. Muito gentil, parou na porta da minha casa, tirou um papelzinho do bolso e disse: “Escrevi uma coisa pra você”. Fiquei estarrecida. Ele leu: “Lua na folha molhada, transparência, jabuticaba branca...”. Fiquei emocionada, falei: “Nossa, Caetano, que coisa maravilhosa, nunca mais vou esquecer desse momento na minha vida”. Depois de não sei quanto tempo, sai o CD do Caetano e eu compro. Quando abri, a primeira coisa que li foi a letra. Cara, fiquei louca. Ele musicou o que escreveu pra mim, eu não podia acreditar. Ainda lembro que eu perguntei para o Dado: “Você acha que eu devia escrever alguma coisa no meu site?”. Ele falou (olha só como são as coisas): “Acho que devia, ele vai ficar contente”. Só que escrevi meio cifrado. Então ninguém entendeu. Sei lá, passaram quatro semanas que tinha escrito, fui dar uma entrevista e um jornalista virou pra mim e falou: “O Dado já escreveu alguma música pra você?”. Respondi: “Não”. Aí ele: “Mas o Caetano escreveu, né? Então está tudo bem”. Eu tomei um puta susto: “Como é que você sabe?”. Ele falou: “Luana, li o teu blog, conheço o CD e a letra, somei um mais um”. A partir daí, só sei o que a imprensa me conta. Saiu aquela história na Mônica Bergamo, que não sei se ele disse ou não porque não costumo acreditar em coluna social. Mas para mim ele morreu, está sepultado. Não posso acreditar que um cara de 65 anos faça uma galhofa dessa. E essa história da música era uma flor que eu ia olhar e sempre achar bonita. E posso dizer uma coisa? O mundo inteiro pode não acreditar, mas eu vou encontrar o Caetano Veloso, a gente vai olhar um no olho do outro e ele vai abaixar a cabeça. Porque a história real, ele e eu sabemos. "

Luana Piovani, Revista Trip, Junho 2007.

Coloridos sublinhados meus.