Um blog da diáspora blasée


4.9.07

Acariocar

Muito antes do Noblat me ter chamado Carioca, facto que muito me agradou, e que me manterá ficcionalmente nas nuvens até ao dia, lá para o final do mês, em que realmente com dois Dramins, estarei nas nuvens a caminho de Lisboa, já eu tinha acariocado, ó há séculos.
O tempo passa, as pessoas mudam. Algumas tanto, tanto, que quando as reencontramos só conseguimos pensar, caraças onde estão a merda dos óculos escuros, ou outras considerações menos nobres, num ranger de dentes acabados de branquear, como pude alguma vez passar mais de dez segundos com este(a) babaca. Note-se que o inverso também é verdadeiro. Acredito que nos dias que correm, eu seja a babaca na vida de muitos. Lá vem a gaja esnobar a terrinha, foda-se, que já não se aguenta. No caso do interlocutor ser macho. Mas onde pensas que vais com esse decote, parece que acabaste de ser estropiada? No caso das gajas. Não é fácil, para ambos os lados. E por isso sorrisos nas bochechas e sigamos. O cherne?
Não sei se estarão entretidos, trabalha-se tão pouco aí em Portugal?, provocaçãozinha, voltei a perder-me. Tenho que mudar o método. Talvez tomar o tal do Simancol. Um Simancol básico, não faz mal a ninguém, garota, e você precisa, disse-me em sonhos a Danuza Leão. Engoli em seco. Prometi acatar. Começo amanhã. Mas hoje ainda posso. E como posso! Por isso, pé na tábua: Acarioquei. Deixei de querer sentar-me naquela mesinha triste ao lado da balança, no Celeiro. Acarioquei quando passei a soltar o cabelo antes de entrar no mar. Quando comecei a dizer: entrar no mar, em vez de: vou ao banho e quando ir à praia, com menos de trinta graus, passou a ser um sacrilégio. Porque essa coisa de praia no Inverno, é coisa de pintura, ou de homens de barba rija. Ou mulheres com a mesma barba. Também quando comecei a inventar desculpas, para não acompanhar todas as visitas ao Corcovado, apesar da vista lá de cima. Quando troquei O Globo pela Folha de S. Paulo. Quando comecei a ter vergonha de repreender as crianças em público.
Quando comecei a achar que frio é aos 17 graus. Quando deixei de me preocupar se o relógio dá nas vistas. Quando passei a beber caipirinha com adoçante, a andar de carro com a janela aberta e a achar normal ser companheira de cooper do Chico Buarque. Do Chico Buarque de Hollanda. Ok, Ok, apanharam-me. Neste último caso, o coração fica um nadinha mais descompassado.