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A coisa de trazer os livros revelou-se completamente ridícula quando tive que os declarar na alfândega. Assim: Uma cama de bébé, duas bicicletas, vinte livros e 128 CD´s e tivemos que pagar uma taxa qualquer de importação, sobre este valiosíssimo material. O que é certo é que não tinha trazido (ainda hoje não o tenho aqui) o digamos, singelo livro da minha vida. Olha lá o que a gaiata (Olá Vasco Barreto, raízes alentejanas) foi dizer. Menos, menos. Mas é a verdade e o calhamaço azul tinha vindo cair nas minhas mãos em 1988. Dezoito aninhos. O livro do gajo dos óculos redondinhos, que enrolava a língua enquanto falava, que escrevia aquela coluna no Expresso, recortada, sublinhada, adorada, que ia ao Plateau, estacionava o carocha preto em lugar proíbido da Av. de Roma e comprava metade da livraria Barata. Eu sei porque lhe aviava a conta, tentando a todo o custo parecer mais gira do que uma menina dos arrabaldes. Nunca me enganei no troco. E de coração partido, lá ia enfrentar, no fim do dia, o aterrorizador Sr. Barata, contando o tostão por tostão do caixa.
Não gosto de nenhum livro, como do A Causa Das Coisas. Gosto de muitos outros livros. Mas de uma forma claríssima o Miguel Esteves Cardoso mostrou-me ali, que a escrita era uma outra coisa. Ninguém escrevia assim. Portugal não era assim. Eu não era assim e até comprei um livro do Samuel Beckett. Que, felizmente, não mudou nada em mim.