Todos os colegas do meu filho mais velho (10) têm celulares. Há dois anos que o miúdo, que aqui já é quase um pré-adolescente - há mais calor, os bichos todos são maiores, as baratas são gigantes, gordas e vermelhas, os piolhos inacreditáveis e portanto as crianças seguem o mesmo padrão e ficam crescidas muito mais depressa - me faz o mesmo pedido: quero um celular. Há dois anos que não lhe dou a porra do celular. O ano passado foi porque estava aí e aí os telemóveis estão adstritos às redes locais e pronto safei-me, este ano engodei-o, não sei se é assim e está um calor do caraças e quero ir para a praia rapidamente, desculpem, com uma bicicleta Caloi, o sonho de consumo de qualquer menino ou menina da minha idade, quando tinhamos dez anos. Ele gostou e tal, mas daqui a um mês, mal comecem as aulas há-de voltar com a mesma conversa. A tal que me faz sentir uma talibã em potência: Fogo mãe, só eu e o Bernardes não temos telemóvel na turma. For the record, o Bernardes é o "outro" tuga, o que também não tem computador no quarto e que quando vai à Europa é pra ir a Sta Iria da Azóia ver a família. Neto de padeiros, coitado do Bernardes, não tem como fugir, pra sempre será. E eu também, mesmo não sendo, mas adoro pão, não passo sem um pãozinho com manteiga à refeição e não me importo nada com a discriminação setorial, tenho todo o gosto sim.
E o avô há-de ligar a perguntar o que eles querem de Natal. Lá irei mais uma vez safar-me, que se há coisa que não aguento, é a pressão da maternidade consciente. Mulher de porcaria, ou uma porcaria de mulher. Puta de merda ou merda de puta. Isto já não tem nada a ver com a Caloi. Evidentemente.