Por cá, tesão não é adjectivo que qualifique o entusiasmo por algo ou alguém: é, antes, um substantivo que define um estado, uma sensação. Não especialmente bonita, nem corriqueira. Aqui, uma pessoa não é um tesão; antes, tem-se tesão por essa pessoa. O ser objecto da tesão do outro não resulta de uma apreciação quase, quase, objectiva (enfatizada, aliás, pelo uso do verbo ser) mas de uma mais íntima e subjectiva, e daí o verbo sentir: eu tenho, eu sinto, tesão. E é feminina, claro. Só por isto, já não poderia ser coisa leve, boa ou apreciativa; a tesão daqui é interior e complicada, é chata e pesada; é uma espécie de incómodo, a aplacar ou a enxotar de vez. Está perto da emoção, e daí o rebuço em confessá-la. Já aquilo a que chamamos de tesão intelectual, de intelectual não tem nada. É, sim, coisa de bicho, que se sente pelo intelecto do outro. Coisa de bicho, sim, que nos inquieta e comicha mesmo que o outro seja marreco e coxo. Um intelecto tesudo manifesta-se na conversa, na escrita e, não obstante, sentimo-lo entre pernas e nos desvios de ar quente. Não é uma mera constatação, a tesão lusa: é uma manifestação física que pode ter consequências futuras, como bebés ou providências cautelares a impedir aproximações a menos de cem metros. No fundo, o tesão é fácil e inconsequente; é, obviamente, um pito de homem aos saltos - fácil de falar, de brincar, de exorcizar e vencer.
Fotografia roubada do Da Literatura. Faz tempo.