Um blog da diáspora blasée


13.3.08

Bundolandia

Levanto-me muito cedo. Acordados só eu e o louco do pássaro das seis. Corro para o computador. As bundas na cabeça. Melhor escrever senão passa e aqui é sabido, nada pode passar, que isto é literalmente pão prá boca.
Não dá para conhecer a cronista pela bunda, mas dá para conhecer pelos bolsos, ou pelas malas, ou pelas bolsas: Procurem. Sempre cheias de notinhas ridículas. A desta que escrevo dizia assim: Quando queria que a minha mãe fosse uma intelectual de esquerda, adorasse saias indianas e freqüentasse a Festa do Avante, no Alto da Ajuda lá em Lisboa, já minha mãe era – com todo o respeito - uma grande bunda. STOP.
Ainda bem que não caiu em mãos alheias. Não a bunda, a crônica. Respeito.
Mas minha mãe, diria o bundólogo que comigo casou, tinha entre outros atributos, uma bunda giríssima que causava o pânico do meu irmão entre os amigos lá da rua, sempre que ela aparecia muito bem aperaltada (o computador acusou a palavra, mas aperaltada sempre existiu toda a vida no nosso vocabulário familiar). Em última análise, Freud deve explicar o problema de meu irmão. Um Édipo rei que, espero, tenha sido ultrapassado. Olá mano, como vais?
O meu foi, claro que há pouco tempo, mas foi. Passei até a gostar de ir com ela às Lojas Americanas, comprar meia-calça levanta bumbum, (não há como estes gajos para as letras) com cinta que levanta o bumbum, aperta a barriga, diminui os quadris e elimina culotes e ideal para ser usada com roupas justas. Prometendo um efeito incrível.
A vinte reais, compramos as duas umas vinte, ela tem aí para vender, sempre foi pela livre iniciativa, daí as faltas ao Alto da Ajuda. Mas ao que interessa, infelizmente a gravidade não perdoa e vivendo no país de bundas em que vivo é uma grande merda: Cai, tudo cai.
A bunda portuguesa deixa a desejar. Deixa muito. É mole, é larga, cresce muito para os lados e é incrivelmente espalmada quando comparada com a das locais. Não sei explicar melhor, que neste momento me lembrei da bunda da Juliana Paes e estou acometida de um ataque de nervos.
Sendo que a bunda portuguesa aqui sou eu e que todas as outras estão incrivelmente sempre lindas, odiosas de tão lindas, vivo tendo neuroses, (gerúndio bem aplicado que é uma constante).
Até a da Maria (en)Rita dá de dez. Desconfio que só a da Rita Lee não dá. E é porque está velhinha e já não tem pachorra para as meias calça. Sendo assim, toda, mas toda brasileira é bunda. Mesmo as nerds de São Paulo. Vão lá passear-se nos Jardins, lá na esquina da Hadock Lobo com a Oscar Freire. Vão ter uma puta de uma introdução. Depois, pronto, já escolados apanhem o avião - sem medo do caos aéreo - e sejam bem vindos. Antevejo um Santos Dumont cheio de bundas.
Doses maciças de tranqüilizantes, meninas, para precaver o confronto com bundas gigantes, bundas pequenas, bundas mulatas, bundas brancas, bundas parvas, desculpem, pardas. Bundas que já foram bundas mas ainda nos dão um baile, como a da Monique Evans, bundas balançantes, bundas comportadas, bundas salientes, bundas douradas, bundas malhadas (as piores), bundas ricas e bundas pobres... E a minha lá no meio, claro, totalmente suportada pela consistente meia calça.
Queriam mais eu sei, mas o resto, desculpem lá, só mesmo com o Zieger.
Desenho de Mariana Massarani