Um blog da diáspora blasée


1.4.08

De cabeça perdida

Depois de sair do apartamento de Mãe Valéria onde, imaginamos, tinha ido encomendar algumas desgraças para o ex-amante que já não amava, mas de quem precisava muito se vingar, Marta ficou zanzando pela rua, perdida entre as frases ininteligíveis da Mãe de Santo, que chegara até a falar grosso e a tranqüilidade de quem estava, finalmente, no fundo do poço.

Como acabara, há três dias, de fazer um peeling químico facial sentia-se incomodada com o repuxar da pele que começava a escamar, à vista de todos, debaixo do sol escaldante da Visconde Pirajá, em Ipanema.
Riu-se com dificuldade, que rir naquele estado implicava bastante mal estar e estabeleceu um óbvio e primário paralelo entre a escamação necessária da sua pele e a descida ao fundo do poço.
A cena macaca a que acabara de se submeter não lhe deixava dúvidas de que estava pra lá de Marrakesh, mas para ter a certeza teve imensa vontade de contar a história a alguém que lhe gritasse, Mas tu enlouqueceste? Sem, no entanto, a julgar mais do que ela aguentaria.

Foi deste querer que lhe aconteceu ver-se praticamente sozinha no mundo, já que após olhar os números de todos, no celular, acabou perdendo a vontade de falar. Joana morrera no ano passado de um C. fulminante, com um saco pendurado da barriga e agradecendo a Deus por lhe darem goles de água gelada por uma palhinha. E apenas com a suspeita de que a amiga andava de cabeça perdida.