Um blog da diáspora blasée


8.4.08

"Essa boneca tem manual"

Não sei, sequer imagino como é com as outras, embora ás vezes pense nisso: na Bebel Gilberto a comprar, na Clara Ferreira Alves a comprar, na Tia Adelina a comprar, na Maria Bethânia a comprar, na Zita Seabra - a Zita é um fetiche meu, sim - a comprar... Sei lá, tenho imenso tempo disponível e um estúpido problema. Diz o Zieger que nunca é demais assumir, tenham lá paciência. Uma cena que até há pouco tempo não era nada, mas que com os anos, por necessidades várias e cruéis, tive que passar a combater com mais veemência. É que eu odeio comprar cuecas. Na moral, odeio comprar calcinha (já adquiri o palavreado do elemento e aqui mulher não usa cueca, usa calcinha).
Havia em tempos uma coisa que quase se igualava ao momento em que metida no provador com doze calcinhas me olhava no espelho, era aquele outro dia a cada dois anos, em que completamente esverdeada tinha que comprar um biquini.
Então durante anos usei daquelas cuecas comunistas, rápidas de comprar e que não precisava provar porque eram tamanho único. Exatamente essas que estão apensar. Essas capazes de tirar a vontade ao mais destemido dos jovens tarados.
Era assim que me passeava pela Festa do Avante à procura de um revolucionário loiro, que lesse Dostoiévski e fizesse windsurf e era assim que ía para o Califa e para o Bairro Alto e jantar fora e que claro continuava à procura, que uma mulher é uma mulher e sempre procura e lá está, corre o risco de querer mostrar a calcinha.
Felizmente lá encontrei o tal quase revolucionário, na tenda de Checoslováquia a comer um pão com chouriço e a beber uma jola, que me amava loucamente, só podia, não é, e que nessa altura ainda se estava nas tintas para as cuecas de supermercado.
Apenas nunca fiando que homem é tudo igual só muda endereço, e prevendo futuros dissabores, minha enxuta mãe fez uma razia completa às minhas gavetas(onde encontrou outras coisas)e já não me deixou casar naquele esterlaio. Ainda tivemos uma amena conversa sobre essas outras coisas, em que aproveitei para dizer aquela pérola dos ditados brasileiros, Não procura, senão você acha, tendo tudo acabado em bem e eu sido entregue ao adorador de Glauber Rocha.
Lembro por isso o meu casamento como o dia em que, pela primeira vez, me passeei com uma lingerie que me parecia uma instalação do Rui Chafes...

(Continua depois. Acabou o tempo. Agora é assim)