Gosto muito de Lisboa. O que escreve direito por linhas tortas saberá o que eu gosto de Lisboa e de caracóis no Ferro de Engomar, em frente à casa da mãe da Sofia e de sardinhas assadas no Coreto de Carnide, onde não se pode entornar nada ou mudar de pedido, sem sermos espancados com os olhos. Adoro. Sou (quase) capaz de trocar Paraty, por Maio e Junho, em Lisboa. O problema, respeita mesmo às jolas que já não consigo emborcar ao ritmo da leveza de um chopp. Complica-se quando vêm quentes. Revelo também que, infelizmente, devido a várias incursões familiares a feiras de ciganos, futebóis e afins adoro bifanas. E que isso concorre para a minha beleza interior, mas não para a exterior. Pregos é que só no Gambrinus e nunca em cadeiras de plástico porque estou velha e gorda e para sensação de que estou a cair me basta o confronto diário com as minhas merdas. Isto cura-se. Mas quanto tempo levará não sei. Perderei amigos que é o que interessa? A esta altura da vida, não. Continuando, também gosto muito de abacates, tudo o que leve abacates e de Mamão e Fruta do Conde e da Casa do Minho, no Rio de Janeiro, onde já fui fantasiada de alentejana. Uma marcação de posição. Sou simples, tão simples que até sou Flamengo. Irritada, mas sou. Vem isto a propósito de quê? De nada. Ou porque a música hoje, no táxi, me deixou à beira de um ataque de nervos. Ou porque não gostei de me sentir uma burguesa entediada, enquanto o motorista cearense parava em todos os sinais da Avenida Atlântica explicando-me, mais calado que um rato, a beleza desta merda que são os morros, o mar e as favelas. Que também não resisto a um bocado de decadência. Esta beleza feia. Venero também, estupidamente, a Maria Bethânia.
Um blog da diáspora blasée