Com o tempo as pessoas normais vão deixando de chorar por tudo e por nada. Coisas que emocionavam começam a desaparecer, os putos crescem, as gracinhas deixam de ter graça, os filmes são uma merda, as músicas que antes faziam chorar baba e ranho nunca mais soaram dessa única maneira estúpida. Enfim, o mundo está louco, o Brasil mais ainda e eu não sou exceção: comecei a pagar para chorar. Pior. Comecei a pagar para ter quem me cutuque a vida cirurgicamente, as deficiências e os pontos fracos. Funciona. Mas não é a mesma coisa, porque logo o fulano explica o choro, o que lhe retira sofrimento e a graça do inesperado, do incontrolável. É um choro letrado, tedioso, sofisticado. Quando vem já se faz anunciar, não tem emoção e tem muita, demasiada noção. Sem dúvida devo estar uma pessoa mais suportável, mas muito menos interessante. Foi então nestes preparos psicológicos, nesta pobreza franciscana que assisti à última final do campeonato carioca, Flamengo-Botafogo. E descobri que claro, nada está perdido, que o Ronaldo pegou uns travecos, mas que Flamengo emociona, que o preço do feijão sobe, mas Obina faz chorar, que o Lula existe mas o volante Diego Tardelli funciona comigo como um gás lacrimogeneo. Caramba, nunca vi o Sporting jogar assim, a não ser uma vez contra o Benfica (e levou seis) e outra contra o Real Madrid e não chegou. Quais livros, quais discos, quais gajos que nos deixam a cabeça em água. Esqueçam tudo. Emoção prá veia dessa de ir às lágrimas, mesmo, é no Maracanã no meio da torcida do Flamengo. Às vezes saem uns tiros e tal, mas alguém ainda quer saber disso? Eu não.
Um blog da diáspora blasée