Um blog da diáspora blasée


5.9.08

Raimunda

NÃO AGUENTO MAIS OLHAR A CARA de minha patroa. Mas tenho de olhar. Acordo às quatro e meia da manhã, pego a Van e o Pirata e às sete e meia desço na Antero de Quental. Vou caminhando, meio dormindo, até à padaria de grã finos que tem o pão francês que ela gosta. Ela me abre a porta de calcinha e soutien e volta a dormir até às nove.
Boto a mesa do café. Faço suco e faço café amando a bunda flácida de minha patroa. Bunda de fumante. Tem caído muito ao longo desses anos. Por isso aquelas Playboy toda no criado-mudo dele.
Sempre que posso vou nas Americanas e compro uma calcinha nova. Já trabalhei em casa de patroa que usava calcinha linda. Essa não liga pra calcinha. Faz mal. O que eu mais odeio é calcinha bege. Já falei pra ela não usar, porque tira tesão de homem. Ela só tem calcinha bege. E calcinha tem que ter bolinhas ou ser muito colorida.
Troco o lençol toda a sexta. Branco não gosta de foder com a mulher. Branco rico, de quadra de praia do Leblon, faz no máximo, duas vezes no mês. Gosto de falar disso com minhas colegas, quando estamos subindo pra casa.
Só a Jupiara, que trabalha em Copacabana, jura que os coroas fazem toda noite. Ela fala que a cueca do patrão tem cheiro. Já trabalhei pra Alemão e sei que lá também não se fodia e nem precisei ficar cheirando cueca. A Ju é louca. Mas o barato da Ju é outro. Acaba que todo o marmanjo se apaixona por ela e ficam lá fazendo, às escondidas das madame, até alguma coisa dar errado e ela ser mandada embora pelo fodedor arrependido.
Por isso tem umas que não botam pra trabalhar dentro de casa neguinha bonita. Tem que ter algum defeito, ou ser muito velha. Eu sou feia de cara, mas boa de bunda. Minha patroa é que ainda não viu e continua lá, usando aquela calcinha bege. Deixa ela. Todo mês tenho conta pra pagar no agiota.