Nas idas a Lisboa vou muitas vezes sozinha à Portugália. Eu gosto da Portugália. Principalmente desde que o Império fechou e me deixou orfã dos bifes da minha infância, adolescência e suposta idade adulta. E já agora que me sentei aqui para escrever, que chove la fora como se o mundo fosse acabar e que nas músicas aleatórias do Ipod me calhou a melancolia do Sting, acho-me intensamente capaz de chegar mais longe e ultrapassar a linha do bom gosto e ficar uma puta sentimental. No Império resolvi brigas familiares, recebi notas de quinhentos escudos da minha querida avó, ouvi conselhos à minha tia, ao meu pai impecavelmente vestido e ainda em horário laboral quando chumbei o nono ano com nega a Matematica, Física e Quimica e Desenho. Almoçava no dia de anos e ouvia os Ferreira Marques discutirem as jogadas do Jordão e as defesas do Michael Schumacher e era muito feliz, claro, sem saber.
Agora almoço ou janto sozinha na Portugália, tentando a todo custo esquecer o molho do Império e depois comentando que afinal os bifes nao são tão maus assim quando na realidade são uma merda. Homens parvos e feios, espantados e cobicosos, nas mesas em volta olham enquanto como tremoçoos e bebo imperiais.
Aqui continua a chover. E estou a desmamar o Lexapro. Na vida há sempre uma razão para tudo. E tambem para jamais ter conseguido voltar a ouvir Elvis Presley sem ter uma enorme dor de barriga.