Pessoas que eu gosto não vêem novelas. Eu vejo novelas. Gosto muito de novelas, ainda mais quando são aquelas inenarráveis. Aquelas com diálogos completamente inverosímeis, que nos fazem torcer no sofá. Aquelas em que o Nicolau Bryner tem que fazer de casado com a Sofia Aparício. Mas não é preciso ir tão fundo. Desde o Dr. Mundinho que choro a ver novelas.
Nesta última tenho a voz da Maria Bethânia na abertura e Copacabana do alto, sem assaltos. Não dá para pedir mais. Um maravilhoso Digasim da vida, após as atrocidades de Renan Calheiros relatadas no Jornal Nacional. O jornalista cheio de estilo William Bonner, também ajuda, mas não exageremos. Precisava ter ao lado a Manuela Moura Guedes e calhou-lhe a Fátima Bernardes. É a vida. E a "vida é um moinho e de cada amor tu herdarás só o cinismo e quando vires estás à beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés". É Cartola, aprendam.
Portanto, novelas são o retrato imperfeito da sociedade Brasileira. Por isso é que são tão boas. Não estão lá feios, nem perigosos, nem favelados. Só casas, de 400 metros quadrados, na Vieira Souto, ilhas em Angra (Búzios é só para argentinos malcheirosos, armados em hippies e portugueses reconheciveis pelas bermudas, excessivamente floridas para a idade), empregados fardados a rigor, babás imaculadamente brancas e crianças loiras. Não há velhinhos acamados, nem meninos pretos pedindo para engraxar havaianas (é melhor dar à sola se isto lhe acontecer). Estão lá os filhinhos de papai todos. O que melhor faz de, é o Fábio Assunção. Com aquele ar ligeiramente babaca, de quem foi criado tomando àgua de côco na mamadeira. Mas eu adoro tudo isto e sem dúvida, o Gilberto Braga.
Outro dia, uma das personagens saiu-se com a seguinte frase: "Mulheres que conseguem manter a sofisticação mesmo morando no Brasil", achei que era comigo, pá. Mas não era, infelizmente não era. Ele falava daquelas que não entram em elevador de serviço, que dizem carésimo e bonitésimo, que compram a Vogue Bambini etc, etc, e dão de dez nas portuguesas com guito.
Não vem nada a propósito, mas sabem como aqui chamam ao representante dos Braganças brasileiro? D. Joãozinho. D. Joãozinho, não é uma maravilha? E ele deixa.
Mas retomo, queria que a minha vida fosse uma novela, e que a prostituta fosse a Camila Pitanga. E que não houvesse zonas cinzentas. Tudo preto no branco. E por falar nisso? Onde estão os pretos, que nas novelas também não os vejo?
Resposta em sonhos do Nelson Rodrigues: Também tu, portuguesa linda? Já não bastava o canalha do Sartre procurando os pretos desta terra? Os pretos estão todos ali ao lado, assaltando carros.
Denoto acidez máxima superior a 0,8%, no mestre. Mas não me atreveria...