Um blog da diáspora blasée


7.11.07

Life

Aqui chegados, já todos sabemos mais que sabido que há um personagem sem nome, sem rosto, sem voz na história. Nem por isso moribundo ainda. De moribunda aqui, só a narradora deste fado-bossa-nova, mal amanhado.
Mas o que é facto é que mesmo sem querer, sem desejar e rogando pragas a quem o chamou pra história, este homem veio aqui parar e, coitado, daqui só sairá sem vida.
Dar-lhe-emos um nome, que a primeira coisa a fazer, em casos perdidos destes, é chamar os bois pelos nomes. Pois então a este homem vamos chamar Sebastião, como Sebastião é o nome do padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. Os acasos são coisas destas e acontecem aos comuns dos mortais e também infelizmente aos imbecis, que é o mínimo que se poderá chamar a esta mulher a quem nos estamos a habituar, a cada folha que viramos.
Eram dele os telefonemas que não vinham, os emails que ela esperava, os sons que ela ouvia, a meio da noite, deitada na cama.
Era a ele que ela procurava mesmo quando não procurava nada.
E estas coisas são iguais para todos e no mínimo de muito mau gosto quando expostas pelos não geniais. Por isso calemos a matraca e não nos espalhemos aqui com pormenores de vos fazer revirar aí na cama, ou no sofá, ou na poltrona do avião pelos ares do Brasil, salve seja, com vergonha da coitada da Marta.
Então, agora que a deixei lá atrás, entretida com os incríveis e dificílimos problemas existenciais da vida dela, vou dar uma prévia do óbvio sentimento que unia esta mulher no Rio, a este homem em Lisboa.
É difícil porque ela não quer falar no assunto, nem me dá muita margem de manobra.
Hoje mesmo, passado um ano do fatídico dia de finados, tentou falar-lhe, a coitada, e mais não conseguiu, que um pontapé no rabo, na bunda, rabiosque, cu, o que preferirem.
O grande Nelson Rodrigues desossava já esta, com o simples e trágico: as mulheres adoram apanhar. O que ululante e literalmente, neste caso, é verdade verdadinha, já que Sebastião foi o único gajo a levantar a mão para lhe bater, num dia em que ela o tirou do sério, porque lhe quis mudar os livros de lugar, na estante do escritório.
Sebastião amava livros. Ela amava livros e tinham-se conhecido por causa dos ditos cheios de pó.