Um blog da diáspora blasée


18.3.08

Eu e Chico no Calçadão

Ontem, pelas duas da tarde, deviam estar uns 39 graus ali no calçadão. Achei que era um bom dia, portanto. Já não o via há bastante tempo, comecei até a andar um tudo nada deprimida. Será que ainda não voltou lá de Paris? Ele, verde-rosa de coração, que decidiu - aposto que só depois de saber que eu também não iria estar presente na Sapucaí - não dar as caras no Carnaval deste ano.
Será que ainda não se cansou das parisienses deprimidas e branquelas, trocadas por aquela italiana escorregadia com a mania que toca violão? Não é possível.
Fiz aquela cara de desenho animado, o pensamento acompanhado do respectivo fechar de olhos, enrugando a testa e fazendo força, beijei Nossa Sra. de Aparecida em conversa com Sto. António de Lisboa, na minha mesinha dos santinhos e pedi por um encontro(a cara de desenho animado era a pedir). Não me ligaram nenhuma.
Peguei no Ipod, prendi a nota azul de dois reais (para a água de côco) no fio lateral do biquíni (não, não foi no fio dental do biquíni, que ainda não enlouqueci) e saí porta fora. Apanhei (peguei já me soa muito melhor) o elevador de serviço, não fosse o caso de encontrar as jarretas do prédio e eu quase nua. E fazem sempre uma fita, as jarretas, como se este fosse um país de pessoas muito vestidas. Mas pronto, deixa-te lá de fosquinhas, só figuras tristes mesmo, desembucha a história...
E o calçadão, que também interessa, lá estava e o asfalto pronto para fritar ovos idem, e o Morro Dois Irmãos, que é um escândalo. Tive logo vontade de abortar o plano e abancar a bunda na praia, cadeirinha e Matte Leão, a pensar no show de luta na lama que irei ver no Madison Square Garden, de Nova Iorque .

Olhei lá para o lado direito, onde ele costuma aparecer e népia, nicles batatinhas. A custo comecei os alongamentos, agarrada a um poste. Fiz bem meia hora de alongamentos, rabo para o ar, ninguém se importa, não liguem, nada de importante para mostrar, os irritantes fiozinhos do Ipod sempre a embrulharem-se e a caírem das orelhas, uma completa falta de estilo. Nada dele.

Novamente o Demo a chamar-me, Olha o mar, olha o mar, que se lixe o Chico, que se lixe a bunda mole e a barriga brrrrgh . Tens outras coisas, mulher. Só que entretanto, maravilha, meu bom São Judas Tadeu, Deus escreve direito por linhas tortas, ele o génio, o olho azul, a calça branca, o tronco nu e aquela cor, apareceu do lado contrário.
Descontrolada, como é óbvio, voltei a fingir que alongava a panturrilha, que vinha vindo na minha direcção o Deus, concentradíssimo lá na vida dele, quando sem que nada fizesse prever, parou. O homem parou, ou estacou, ou lá o que foi. Mas o problema, que não era problema, não foi ele ter parado. Aqui todos param onde querem, uma coisa sem rei nem roque, o culpado é o Lula. O problema é que ele tinha parado perto demais causando o maior bafafá entre o gajedo que tentava borrifar-se no Cuca Fresca. No meio de quem, esta que vos escreve, estava já filosofando nos seguintes termos:
Controla-te, vá estúpida, pensa em mantras, ai menino Jesus, pensa em cócó diarréia, apenas continua quieta, não faças nada, sobretudo não te movas, não te mexas. Estás de rabo pró ar é verdade, mas não te mexas, Mónica Maria. E enquanto se lembrava de ordenar ao cérebro, o que o coração não queria, ouviu finalmente uma voz prolongar-se, parva, gaguejante e pirosa no ar: Olá Chico. Gosto muito de si.
Ele tomava um côco e do côco saía uma palhinha.
Melhor ir para casa lavar loiça.