NO BRASIL QUANDO SE QUER FAZER alguma coisa bem feita – entendam o que quiserem – recorre-se a um Despachante. Pode ser matar alguém. Eu não queria matar ninguém. Queria poder trazer uns chouriços e umas morcelas e uns queijos de Portugal e saber que iriam chegar seguramente ao destino. E é para esse tipo de coisas que um Despachante serve. Os meus amigos cariocas já se queixavam que há muito não degustavam essas iguarias, nas noites quentes do Rio, as janelas de meu apartamento abertas, bons vinhos, broa do Capixaba, enfim. O problema é que não se sabia porquê, as malas dos vôos TAP tinham passado a ser apreendidas bem antes de chegarem à esteira. E as conversas já decorriam à volta de avançados modelos de raio x que possivelmente estariam a ser usados pelos políciais e que conseguiriam diagnosticar o mais insignificante chouriço enfiado dentro de um sapato, para grande alegria dos bofes e enorme vergonha dos emigras apanhados no flagra, sempre sofrendo com os risinhos e olhares oblíquos de patrícios chiques europeus e modernosos, na fila do desembarque.
Marcamos um encontro com o Despachante no Le Coin. Era gordo, como todos os Despachantes e seboso. Não tinha pescoço e suava muito. Desculpou-se do suor, enquanto pousava a pasta e pediamos ao Lopes uns tira-gosto e três chops.
Então doutor, qual vai ser o probrema? Perguntou , sem tirar os olhos de cima de mim.