Um blog da diáspora blasée
29.12.07
No banho
Estava no duche, cuidando do meu hemorroidal, exatamente da forma que o ginecologista me aconselhou aí em Lisboa, isto é: cuidadosamente, quando me ocorreram três idéias para um post, não me perguntem se exatamente na ordem. Garanto que esse pormenor não tem a menor importância. E façam por esquecer o hemorroidal, uma manobra com vista à obtenção de links de gajos tarados.
Então já lá no reino das idéias,completamente debaixo de àgua, ocorreu-me a cena das almas gêmeas e onde é que elas se postam e onde e como aparecem e o raio que as parta, logo seguida da constatação lugar comum, óbvia e esquerdista da merda, de que a praia é o lugar mais democrático do Rio de Janeiro. E infelizmente é.
Sobre as almas gêmeas eu odeio a minha já viram, se bem que ontem, após o bundólogo ter vindo amoroso, num pulinho a casa buscar dois vodkas tónicos trinta minutos antes do sol se pôr atrás dos dois irmãos, numa palete de tons que agradaria a Turner, se bem que ontem, eu ia dizendo, ela quase me ter parecido uma alminha boa.
Por certo a altura do ano e o calor de quarenta graus amoleciam minha mente, (vejam que até dropo o Turner) meus olhos, meu corpo aparvalhado da cabeça aos pés. Mas sim, achei-a uma alminha boa e lembrei-me de quando ela me fazia vir, lapsus linguae, rir.
Agora a praia. A praia também é um romance giro do Alex Garland, isso lembra a Tailândia e se quisesse divagaria, mas ainda não tomei nem uminha, incapaz, tão longe fica a Tailândia, há um hotel em Bangkok e outro em Pucket e sim e pois. Not my beach, in english ou em português, não vamos por aí que essa não é a minha praia.
A minha praia é a do Leblon, frente à barraca do Panela, copos de plástico no chão, cocos, velas com pedidos a Iemanjá, todos os moradores da Cruzada São Sebastião, alguns do Vidigal, Luana Piovani, Dado Dollabela. Não é uma praia fácil. Principalmente num Domingo de Verão, mas é a minha e quando não estou para Caiçaras, misturo-me que é pra não ser parva. Na juventude ouvi o Sérgio Godinho e fui duas vezes à festa do Avante.
O processo criativo nesta casa (odeio quando os bloggers se referem assim ao blogue e a si, odeio ser considerada uma blogger, mas ao mesmo tempo talvez seja engraçado passar a preencher papelada assim: Blogger-Do Lar) é deprimente.
Quatro blogs que eu gosto e tiveram a lata de vir dizer que gostam deste blog cujo assunto é sempre de ir ao cu, ai desculpem, hemorroidal: Pedro Rolo Duarte, Destaques a Amarelo, Berra-Boi, Nuno Miguel Guedes. Eu sabia que tinham bom gosto.
Então já lá no reino das idéias,completamente debaixo de àgua, ocorreu-me a cena das almas gêmeas e onde é que elas se postam e onde e como aparecem e o raio que as parta, logo seguida da constatação lugar comum, óbvia e esquerdista da merda, de que a praia é o lugar mais democrático do Rio de Janeiro. E infelizmente é.
Sobre as almas gêmeas eu odeio a minha já viram, se bem que ontem, após o bundólogo ter vindo amoroso, num pulinho a casa buscar dois vodkas tónicos trinta minutos antes do sol se pôr atrás dos dois irmãos, numa palete de tons que agradaria a Turner, se bem que ontem, eu ia dizendo, ela quase me ter parecido uma alminha boa.
Por certo a altura do ano e o calor de quarenta graus amoleciam minha mente, (vejam que até dropo o Turner) meus olhos, meu corpo aparvalhado da cabeça aos pés. Mas sim, achei-a uma alminha boa e lembrei-me de quando ela me fazia vir, lapsus linguae, rir.
Agora a praia. A praia também é um romance giro do Alex Garland, isso lembra a Tailândia e se quisesse divagaria, mas ainda não tomei nem uminha, incapaz, tão longe fica a Tailândia, há um hotel em Bangkok e outro em Pucket e sim e pois. Not my beach, in english ou em português, não vamos por aí que essa não é a minha praia.
A minha praia é a do Leblon, frente à barraca do Panela, copos de plástico no chão, cocos, velas com pedidos a Iemanjá, todos os moradores da Cruzada São Sebastião, alguns do Vidigal, Luana Piovani, Dado Dollabela. Não é uma praia fácil. Principalmente num Domingo de Verão, mas é a minha e quando não estou para Caiçaras, misturo-me que é pra não ser parva. Na juventude ouvi o Sérgio Godinho e fui duas vezes à festa do Avante.
O processo criativo nesta casa (odeio quando os bloggers se referem assim ao blogue e a si, odeio ser considerada uma blogger, mas ao mesmo tempo talvez seja engraçado passar a preencher papelada assim: Blogger-Do Lar) é deprimente.
Quatro blogs que eu gosto e tiveram a lata de vir dizer que gostam deste blog cujo assunto é sempre de ir ao cu, ai desculpem, hemorroidal: Pedro Rolo Duarte, Destaques a Amarelo, Berra-Boi, Nuno Miguel Guedes. Eu sabia que tinham bom gosto.
26.12.07
A Caloi
Todos os colegas do meu filho mais velho (10) têm celulares. Há dois anos que o miúdo, que aqui já é quase um pré-adolescente - há mais calor, os bichos todos são maiores, as baratas são gigantes, gordas e vermelhas, os piolhos inacreditáveis e portanto as crianças seguem o mesmo padrão e ficam crescidas muito mais depressa - me faz o mesmo pedido: quero um celular. Há dois anos que não lhe dou a porra do celular. O ano passado foi porque estava aí e aí os telemóveis estão adstritos às redes locais e pronto safei-me, este ano engodei-o, não sei se é assim e está um calor do caraças e quero ir para a praia rapidamente, desculpem, com uma bicicleta Caloi, o sonho de consumo de qualquer menino ou menina da minha idade, quando tinhamos dez anos. Ele gostou e tal, mas daqui a um mês, mal comecem as aulas há-de voltar com a mesma conversa. A tal que me faz sentir uma talibã em potência: Fogo mãe, só eu e o Bernardes não temos telemóvel na turma. For the record, o Bernardes é o "outro" tuga, o que também não tem computador no quarto e que quando vai à Europa é pra ir a Sta Iria da Azóia ver a família. Neto de padeiros, coitado do Bernardes, não tem como fugir, pra sempre será. E eu também, mesmo não sendo, mas adoro pão, não passo sem um pãozinho com manteiga à refeição e não me importo nada com a discriminação setorial, tenho todo o gosto sim.
E o avô há-de ligar a perguntar o que eles querem de Natal. Lá irei mais uma vez safar-me, que se há coisa que não aguento, é a pressão da maternidade consciente. Mulher de porcaria, ou uma porcaria de mulher. Puta de merda ou merda de puta. Isto já não tem nada a ver com a Caloi. Evidentemente.
24.12.07
21.12.07
20.12.07
azul por todos os lados
Por mero acaso tive a sorte de só me cruzar com dois grupos de portugueses durante estes dias em Búzios. Como tudo na vida e também no mundo, Búzios já foi uma maravilha maravilhosa, hoje é só uma maravilha, mas dá muito bem pró gasto. Pra quem é bacalhau basta, estamos na época, e sim vou comer. Embora vá consoar em casa de uma amiga argentina não me perguntem que não faço a mínima sobre o que comem os portenhos, levo o tal do meu bacalhauzito, isso me basta. Hope so.
Mas como dizia, tive muita sorte e em cinco dias, quatro noites, só dois grupetos passaram por nós, disfarçados, quer pelos meus escandalosos decotes, quer pelo linguajar carioca de minha proletária prole, brinco com as palavras, óbvio.
Aos primeiros ouvi dizer que aquilo parecia muito o Montijo. Não sabia que o Montijo estava tão engraçadito. Fiz muitos sinais à proletária prole. Sinais indicativos de fecharem a boca, não fossem também eles passar por portugueses, o que como toda a gente sabe, nenhum português gosta, quando há assim encontros fora de portas. Bimbos, bimbos, bimbos, três vezes bimbos.
Os outros que vi não eram bimbos, eram grunhos. Da Madeira. Surravam, a mando da avó, a criança que já vinha gritando ao longe. E Dá-lhe um beliscão!, foi o que consegui ouvir a velha aconselhar entredentes, enquanto a mãe da horrivel criancinha vulgo HC, me olhava de esguelha e resolveu passar ao inglês, claro muito mais fina e o caraças, dá-lhe lá com o inglês: Marito i shall say this only once be quiet or i´ll spank you and beliscate you.
Na dúvida fiquei, se o casalzinho que comprava metade da Richards, ele sapato de vela e calção demasiado florido, ela desengraçada e com nuances de tia também eram. No entanto fizemos apostas e olhem Búzios é muito, muito pior que o Montijo.
No escurinho do cinema, chupando dropps de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz... (a benção, Rita Lee)
14.12.07
13.12.07
Um Natal Tropical
Vamos lá então, que sempre fui muito bem mandadinha e hoje, em terapia via google talk me aconselharam a postar sobre o natal nos trópicos. Acontece que não estou absolutamente imbuída do espírito natalício. Não sei o que é um Natal longe do Centro Comercial Colombo, da Fnac a abarrotar, do Ikea em Alfragide. Do frio, meu deus, do frio. Das discussões familiares sobre quem vai buscar o Leite de Creme da mãe, o Sericaia e a própria da mãe, a Massamá City, fazer o IC 19 às sete da tarde de 24 e depois deslocar-se, mais os quarenta sacos de presentes das crianças. Que não ajudo nada, que não faço nada, que ela ainda tem que se arranjar e tem o cabelo todo a cheirar ao açucar queimado do Leite de Creme. E além disso quem leva o Lombo de Porco que a sra. minha mãe é alentejana e se já telefonei aos meus primos que me queriam ver tanto e à tia Maria de Lourdes que nunca mais te viu e partiu a bacia, o que iria pensar o tio Leopoldo. Não podes ser assim, Mónica Maria, mas sou e acabamos sempre semizangadas na mesa da ceia, e passa lá o azeite de ladecos e assim.
Este ano meu nome é Gal e não faz mal eu amo igual, mas tou triste e não posso dizer nada. Incompreendida. Sabem lá os índios, o que custa passar o dia 24 a torrar na praia, de cara alegre e o dia 25 sem comer Roupa Velha e as farófias desfeitas e as intocadas fatias douradas da Avó Luísa, também ela brigada com a tia Rosarinho.
A Árvore de Natal está aqui ao lado, pindérica e falsa, com bolas compradas na Saara e fitas nojentas que aí, nem na loja dos chineses. O pé de côco na rua está todo iluminado e está lindo, ao som de uma versão samba do jingle bells. Ah e também não queiram saber a agradável sensação que se tem ao deglutir rabanadas debaixo de um sol de 40 graus.
Este ano meu nome é Gal e não faz mal eu amo igual, mas tou triste e não posso dizer nada. Incompreendida. Sabem lá os índios, o que custa passar o dia 24 a torrar na praia, de cara alegre e o dia 25 sem comer Roupa Velha e as farófias desfeitas e as intocadas fatias douradas da Avó Luísa, também ela brigada com a tia Rosarinho.
A Árvore de Natal está aqui ao lado, pindérica e falsa, com bolas compradas na Saara e fitas nojentas que aí, nem na loja dos chineses. O pé de côco na rua está todo iluminado e está lindo, ao som de uma versão samba do jingle bells. Ah e também não queiram saber a agradável sensação que se tem ao deglutir rabanadas debaixo de um sol de 40 graus.
E agora riam, que nem a cabeleireira que há em mim (plagiada, Sofia) consegue achar graça alguma a isto.
PS- nunca comam uma coisa que os estúpidos dos italianos pra qui trouxeram e que eles todos acham o máximo, porque é italiana e não portuguesa, mas que se atira às paredes e sabe a esponja: o panetonne.
12.12.07
11.12.07
O anónimo
Ontem atravessando a Ataúlfo de Paiva, quando o sinal fechou, em frente aos correios, em direcção à Praça Antero de Quental.
Contemporânea dele e na cidade dele. Atravessei, mesmo sem ter que o fazer, claro.
A benção Rubem Fonseca.
3.12.07
Eu, hoje de manhã
Por cá, tesão não é adjectivo que qualifique o entusiasmo por algo ou alguém: é, antes, um substantivo que define um estado, uma sensação. Não especialmente bonita, nem corriqueira. Aqui, uma pessoa não é um tesão; antes, tem-se tesão por essa pessoa. O ser objecto da tesão do outro não resulta de uma apreciação quase, quase, objectiva (enfatizada, aliás, pelo uso do verbo ser) mas de uma mais íntima e subjectiva, e daí o verbo sentir: eu tenho, eu sinto, tesão. E é feminina, claro. Só por isto, já não poderia ser coisa leve, boa ou apreciativa; a tesão daqui é interior e complicada, é chata e pesada; é uma espécie de incómodo, a aplacar ou a enxotar de vez. Está perto da emoção, e daí o rebuço em confessá-la. Já aquilo a que chamamos de tesão intelectual, de intelectual não tem nada. É, sim, coisa de bicho, que se sente pelo intelecto do outro. Coisa de bicho, sim, que nos inquieta e comicha mesmo que o outro seja marreco e coxo. Um intelecto tesudo manifesta-se na conversa, na escrita e, não obstante, sentimo-lo entre pernas e nos desvios de ar quente. Não é uma mera constatação, a tesão lusa: é uma manifestação física que pode ter consequências futuras, como bebés ou providências cautelares a impedir aproximações a menos de cem metros. No fundo, o tesão é fácil e inconsequente; é, obviamente, um pito de homem aos saltos - fácil de falar, de brincar, de exorcizar e vencer.
Fotografia roubada do Da Literatura. Faz tempo.
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