Um blog da diáspora blasée
22.9.07
19.9.07
Não tenho disciplina que chegue para odiar bem, é um triste facto. Mas consigo saber quando é hora de ir lavar calcinhas, para fugir ao tédio que isso me provoca.
Hoje também me perguntaram coisas abstratas como, Mas o que tens tu para dizer? e outras, não tão abstratas, mas interessantes e sinceras na mesma como, Estás a preparar-te para vir toda puta, não é?
Prefiro os dias mais leves. Ou quando a conversa é sobre mamas. Ou um regabofe.
18.9.07
Cinco minutos no sofá
Devo ter um problema. De facto sei mesmo que tenho um problema e que nunca mexi uma palha para o combater. Deixo-o viver assim comigo, latente. Umas vezes chateia-me mais, outras menos. Depende muito com quem estou, de quem são os meus interlocutores, se me chamam à razão, etc. Antigamente sempre que o problema se revelava, incomodava-me, quando confrontada com ele corava, sei lá. Hoje apenas encolho os ombros e peço que não me chateiem. Quer dizer, sábado à noite cheguei a segredar ao ouvido do bundólogo, Ouve lá, mas quanto pagámos para vir ouvir isto? E depois, num exercício de autocomiseração ainda o lembrei, Vês quase a mesma coisa daquela outra vez, do chato do Naná Vasconcelos. E lá continuei a ouvir o sambinha, ansiando pela falta de entusiasmo do público que levasse rapidamente ao fim daquele suplício no Canecão. Evidentemente não gosto de nada com raízes excessivamente africanas. Muita batucada, Angola, tranças rastafari. Mas também não me sinto bem quando planejo uma viagem à India, ou me convidam para ir ao MAM ver uma instalação de Lygia Clark, (este último exemplo não colhe e é só para baralhar), ou me cruzo com os meus vizinhos, judeus ortodoxos, no elevador social. Mas gosto muito do Agualusa, do Mia Couto, da Martnália, da Bahia, do Candomblé e da Galinha D´Angola.
Fui ver o Martinho da Vila.
14.9.07
As Novelas
Pessoas que eu gosto não vêem novelas. Eu vejo novelas. Gosto muito de novelas, ainda mais quando são aquelas inenarráveis. Aquelas com diálogos completamente inverosímeis, que nos fazem torcer no sofá. Aquelas em que o Nicolau Bryner tem que fazer de casado com a Sofia Aparício. Mas não é preciso ir tão fundo. Desde o Dr. Mundinho que choro a ver novelas.
Nesta última tenho a voz da Maria Bethânia na abertura e Copacabana do alto, sem assaltos. Não dá para pedir mais. Um maravilhoso Digasim da vida, após as atrocidades de Renan Calheiros relatadas no Jornal Nacional. O jornalista cheio de estilo William Bonner, também ajuda, mas não exageremos. Precisava ter ao lado a Manuela Moura Guedes e calhou-lhe a Fátima Bernardes. É a vida. E a "vida é um moinho e de cada amor tu herdarás só o cinismo e quando vires estás à beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés". É Cartola, aprendam.
Portanto, novelas são o retrato imperfeito da sociedade Brasileira. Por isso é que são tão boas. Não estão lá feios, nem perigosos, nem favelados. Só casas, de 400 metros quadrados, na Vieira Souto, ilhas em Angra (Búzios é só para argentinos malcheirosos, armados em hippies e portugueses reconheciveis pelas bermudas, excessivamente floridas para a idade), empregados fardados a rigor, babás imaculadamente brancas e crianças loiras. Não há velhinhos acamados, nem meninos pretos pedindo para engraxar havaianas (é melhor dar à sola se isto lhe acontecer). Estão lá os filhinhos de papai todos. O que melhor faz de, é o Fábio Assunção. Com aquele ar ligeiramente babaca, de quem foi criado tomando àgua de côco na mamadeira. Mas eu adoro tudo isto e sem dúvida, o Gilberto Braga.
Outro dia, uma das personagens saiu-se com a seguinte frase: "Mulheres que conseguem manter a sofisticação mesmo morando no Brasil", achei que era comigo, pá. Mas não era, infelizmente não era. Ele falava daquelas que não entram em elevador de serviço, que dizem carésimo e bonitésimo, que compram a Vogue Bambini etc, etc, e dão de dez nas portuguesas com guito.
Não vem nada a propósito, mas sabem como aqui chamam ao representante dos Braganças brasileiro? D. Joãozinho. D. Joãozinho, não é uma maravilha? E ele deixa.
Mas retomo, queria que a minha vida fosse uma novela, e que a prostituta fosse a Camila Pitanga. E que não houvesse zonas cinzentas. Tudo preto no branco. E por falar nisso? Onde estão os pretos, que nas novelas também não os vejo?
Resposta em sonhos do Nelson Rodrigues: Também tu, portuguesa linda? Já não bastava o canalha do Sartre procurando os pretos desta terra? Os pretos estão todos ali ao lado, assaltando carros.
Denoto acidez máxima superior a 0,8%, no mestre. Mas não me atreveria...
13.9.07
O meu avô tinha um lagar
Obrigar-me a escrever com grau de acidez máxima inferior a 0,4%. Não ler ninguém com grau de acidez máxima superior a 0,8%. Ou: De como não revelar falta de sexo, nem querer intuí-la nos outros.
11.9.07
O livro que mudou a gaiata
No dia 1 de Agosto de 2001, já dentro do avião, rememorando os dez livros que metera no caixote da mudança, vi que me tinha esquecido deste. Como estávamos em pleno Equador, não consegui que o lapso me preocupasse por muito tempo, ocupada na respiração preventiva, lenta e até cem, para acalmar o medo de voar. No porão estavam as leituras óbvias de uma menina de classe média criada nos arrabaldes, "levemente intelectual, levemente de esquerda". Eu escolhera os meus dez, ele os dez dele. E isto foi o mais perto que alguma vez estive daquela cena do Kramer VS Kramer, em que a Meryl Streep e o Dustin Hoffman dividem livros. Pouco perto. Portanto, trazia os Cem Anos de Solidão (ainda na edição da capa em tons de amarelo, provavelmente surripiada ao Pai), Os Maias, um do Herberto Helder, um do Pessoa, dois do Saramago e O Amor é Fodido do MEC, para não estar com mais cenas e porque decerto já toparam que não sou lá essas coisas. Também não veio nenhum Paul Auster.
A coisa de trazer os livros revelou-se completamente ridícula quando tive que os declarar na alfândega. Assim: Uma cama de bébé, duas bicicletas, vinte livros e 128 CD´s e tivemos que pagar uma taxa qualquer de importação, sobre este valiosíssimo material. O que é certo é que não tinha trazido (ainda hoje não o tenho aqui) o digamos, singelo livro da minha vida. Olha lá o que a gaiata (Olá Vasco Barreto, raízes alentejanas) foi dizer. Menos, menos. Mas é a verdade e o calhamaço azul tinha vindo cair nas minhas mãos em 1988. Dezoito aninhos. O livro do gajo dos óculos redondinhos, que enrolava a língua enquanto falava, que escrevia aquela coluna no Expresso, recortada, sublinhada, adorada, que ia ao Plateau, estacionava o carocha preto em lugar proíbido da Av. de Roma e comprava metade da livraria Barata. Eu sei porque lhe aviava a conta, tentando a todo o custo parecer mais gira do que uma menina dos arrabaldes. Nunca me enganei no troco. E de coração partido, lá ia enfrentar, no fim do dia, o aterrorizador Sr. Barata, contando o tostão por tostão do caixa.
Não gosto de nenhum livro, como do A Causa Das Coisas. Gosto de muitos outros livros. Mas de uma forma claríssima o Miguel Esteves Cardoso mostrou-me ali, que a escrita era uma outra coisa. Ninguém escrevia assim. Portugal não era assim. Eu não era assim e até comprei um livro do Samuel Beckett. Que, felizmente, não mudou nada em mim.
9.9.07
Isto é um presidente
"Amanhã, eu não sou mais presidente, sabe onde eu vou estar? Eu não vou fazer curso em Paris. Não vou fazer um curso nos Estados Unidos. Eu vou é voltar para a minha gente."
"Ninguém neste país tem mais autoridade moral, ética e política do que o nosso partido. Admitimos que tem gente igual a nós, mas não admitimos que tenha melhor."
Lula da Silva, num momento de desprezo pelo que ele acha serem comportamentos das zélite e no momento seguinte, com o ego lá em cima. Igualzinho a mim. Ontem comecei o Kum Nye. Ora, ora, depois conto, agora não posso, fugi para escrever estas linhas longe da maluca da monja. Há três dias que sou presenteada com lautos banquetes lactovegetais e me passeio dentro de um trapo tipo saco de batatas. A monja diz que enquanto eu continuar a falar do Presidente não me dará abébias. Não posso escrever mais. Ela tem um lápis azul na orelha. Sinto falta dos sabonetes e dos floaters na Praia do Leblon. Mas ela diz que tudo o que arde, cura.
6.9.07
Ano bom para anões
A blogger, (porque a blogger e eu nem amigas somos, fuck it que enjôo, dizemos uma da outra), vem por este meio agradecer todas as formas de apreço e carinho e todas as tentativas de assédio e também os links, que desde dia dois de Agosto, foi, foi, foi, exatamente essa a data, a têm deixado insone, numa egotrip diária. Planeja passar o sete de Setembro em Brasília, obrigando-se a ouvir o Lula e a ver a parada militar habitual da data, que comemora o grito de D. Pedro às margens do Ipiranga, como sabem (espero que não saibam), acometido de uma diarreia enorme.
A blogger está um caco. A blogger precisa recompor-se. A blogger não aguenta a blogosfera. A blogger está quase cega por causa da tela branca do computador.
Ou a blogger pára, ou a blogger fica maluca. Bye. Au revoir. O dono da padaria, ao ver as minhas tristes olheiras aconselhou, qualquer coisa, nuns prados verdes e cheios de vacas e um retiro Zen-Budista, para os lados de Petrópolis.
Vou, vou, vou. Fui.
4.9.07
Acariocar
Muito antes do Noblat me ter chamado Carioca, facto que muito me agradou, e que me manterá ficcionalmente nas nuvens até ao dia, lá para o final do mês, em que realmente com dois Dramins, estarei nas nuvens a caminho de Lisboa, já eu tinha acariocado, ó há séculos.
O tempo passa, as pessoas mudam. Algumas tanto, tanto, que quando as reencontramos só conseguimos pensar, caraças onde estão a merda dos óculos escuros, ou outras considerações menos nobres, num ranger de dentes acabados de branquear, como pude alguma vez passar mais de dez segundos com este(a) babaca. Note-se que o inverso também é verdadeiro. Acredito que nos dias que correm, eu seja a babaca na vida de muitos. Lá vem a gaja esnobar a terrinha, foda-se, que já não se aguenta. No caso do interlocutor ser macho. Mas onde pensas que vais com esse decote, parece que acabaste de ser estropiada? No caso das gajas. Não é fácil, para ambos os lados. E por isso sorrisos nas bochechas e sigamos. O cherne?
Não sei se estarão entretidos, trabalha-se tão pouco aí em Portugal?, provocaçãozinha, voltei a perder-me. Tenho que mudar o método. Talvez tomar o tal do Simancol. Um Simancol básico, não faz mal a ninguém, garota, e você precisa, disse-me em sonhos a Danuza Leão. Engoli em seco. Prometi acatar. Começo amanhã. Mas hoje ainda posso. E como posso! Por isso, pé na tábua: Acarioquei. Deixei de querer sentar-me naquela mesinha triste ao lado da balança, no Celeiro. Acarioquei quando passei a soltar o cabelo antes de entrar no mar. Quando comecei a dizer: entrar no mar, em vez de: vou ao banho e quando ir à praia, com menos de trinta graus, passou a ser um sacrilégio. Porque essa coisa de praia no Inverno, é coisa de pintura, ou de homens de barba rija. Ou mulheres com a mesma barba. Também quando comecei a inventar desculpas, para não acompanhar todas as visitas ao Corcovado, apesar da vista lá de cima. Quando troquei O Globo pela Folha de S. Paulo. Quando comecei a ter vergonha de repreender as crianças em público.
Quando comecei a achar que frio é aos 17 graus. Quando deixei de me preocupar se o relógio dá nas vistas. Quando passei a beber caipirinha com adoçante, a andar de carro com a janela aberta e a achar normal ser companheira de cooper do Chico Buarque. Do Chico Buarque de Hollanda. Ok, Ok, apanharam-me. Neste último caso, o coração fica um nadinha mais descompassado.
O tempo passa, as pessoas mudam. Algumas tanto, tanto, que quando as reencontramos só conseguimos pensar, caraças onde estão a merda dos óculos escuros, ou outras considerações menos nobres, num ranger de dentes acabados de branquear, como pude alguma vez passar mais de dez segundos com este(a) babaca. Note-se que o inverso também é verdadeiro. Acredito que nos dias que correm, eu seja a babaca na vida de muitos. Lá vem a gaja esnobar a terrinha, foda-se, que já não se aguenta. No caso do interlocutor ser macho. Mas onde pensas que vais com esse decote, parece que acabaste de ser estropiada? No caso das gajas. Não é fácil, para ambos os lados. E por isso sorrisos nas bochechas e sigamos. O cherne?
Não sei se estarão entretidos, trabalha-se tão pouco aí em Portugal?, provocaçãozinha, voltei a perder-me. Tenho que mudar o método. Talvez tomar o tal do Simancol. Um Simancol básico, não faz mal a ninguém, garota, e você precisa, disse-me em sonhos a Danuza Leão. Engoli em seco. Prometi acatar. Começo amanhã. Mas hoje ainda posso. E como posso! Por isso, pé na tábua: Acarioquei. Deixei de querer sentar-me naquela mesinha triste ao lado da balança, no Celeiro. Acarioquei quando passei a soltar o cabelo antes de entrar no mar. Quando comecei a dizer: entrar no mar, em vez de: vou ao banho e quando ir à praia, com menos de trinta graus, passou a ser um sacrilégio. Porque essa coisa de praia no Inverno, é coisa de pintura, ou de homens de barba rija. Ou mulheres com a mesma barba. Também quando comecei a inventar desculpas, para não acompanhar todas as visitas ao Corcovado, apesar da vista lá de cima. Quando troquei O Globo pela Folha de S. Paulo. Quando comecei a ter vergonha de repreender as crianças em público.
Quando comecei a achar que frio é aos 17 graus. Quando deixei de me preocupar se o relógio dá nas vistas. Quando passei a beber caipirinha com adoçante, a andar de carro com a janela aberta e a achar normal ser companheira de cooper do Chico Buarque. Do Chico Buarque de Hollanda. Ok, Ok, apanharam-me. Neste último caso, o coração fica um nadinha mais descompassado.
Eu hoje acordei assim*
Muito mimada. E vendo bem, no filme abaixo o Paul Auster já não estava com os mínimos. Deve ser difícil a vida de editor.
*trademark by Bomba
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